Arte Russa

Arte Russa

A história da arte russa pode ser dividida em quatro períodos: o bizantino, o moscovita ou nacional, o petersburguês ou europeu e o soviético. Ao censurar o que chamava de arte capitalista e desenvolver a estética do realismo socialista, o regime soviético foi responsável por um processo de isolamento cultural que muito prejudicou a arte russa contemporânea.

Período bizantino (988-1530)
Com a conversão de Vladimir I ao cristianismo, em 995, Kiev tornou-se o primeiro grande centro artístico da Rússia, mas se manteve, entretanto, na completa dependência artística e cultural de Constantinopla (atual Istambul). Do século X até o final do século XVII, os artistas russos limitaram-se praticamente à pintura de ícones, arte de origem bizantina cuja temática girava em torno da representação de santos e episódios bíblicos, sem jamais recorrer a modelos vivos. As duas fontes da tradição artística bizantina -- a clássica e a oriental -- tornaram-se a base da primitiva arte eclesiástica.

A arte da fase kieviana é representada pelos mosaicos e afrescos das catedrais de Kiev, filigranas e esmaltes. Foi na igreja de Santa Sofia, na mesma cidade, que pela primeira vez surgiram mosaicos russos, embora em estilo bizantino. Dos ícones, os mais importantes são a "Nossa Senhora de Vladimir", trazido de Constantinopla no século XII, e a "Nossa Senhora da Ternura", obra anônima do início do século XVI. Destacam-se também alguns ícones ucranianos, pintados sobre madeira, como "O anjo de cabelo dourado" e "O sudário de santa Verônica", ambos do século XII.

Devido à invasão mongol, no século XIII, só chegaram aos tempos modernos poucos vestígios da arquitetura religiosa e palaciana da Rússia. No final do século XIII e no século XIV, contudo, a pintura refloresceu em Vladimir-Suzdal e, particularmente, no principado de Novgorod, que se tornou então a metrópole e o centro cultural da Rússia. Na região -- protegida por florestas, às margens de um afluente do Alto Volga e com relações mais estreitas com a Geórgia e a Armênia, o que a afastava da influência bizantina -- os rígidos padrões bizantinos, com cores escuras e linhas austeras, aos poucos cederam lugar à graça, ao brilho e a um estilo menos pomposo. Entre os afrescos, que nesse período superaram definitivamente os mosaicos, destacam-se sobretudo os das igrejas de São Jorge, em Staraia Ladoga, de cerca de 1180, e de Nereditsa, de 1199, que dão uma idéia da arte pictórica desse período.

A brilhante etapa final da arte bizantina -- conhecida como Renascimento Paleólogo -- atingiu seu apogeu nos últimos 25 anos do século XIV, com as obras de Teófanes o Grego, imigrante bizantino cujas pinturas já revelavam as características da arte russa: proporções alongadas, delicadeza de detalhes e composição rítmica. Entre os mais notáveis discípulos de Teófanes destaca-se Andrei Rublev, criador de tipos religiosos com uma nova expressão espiritual, que pintou afrescos nas catedrais da Anunciação, em Moscou, em 1405, e da Assunção, em Vladimir, em 1408. Sua obra mais conhecida, entretanto, é o ícone "A Trindade do Antigo Testamento", pintado por volta de 1410 para o mosteiro de Trindade-Serguiev, perto de Moscou. Outro artista inspirado do século XV foi Dionissï, que deixou diversos ícones, entre os quais "O metropolita" e "A crucifixão".

Período moscovita (1530-1700)
A influência de Moscou começou a crescer no reinado de Ivan I, que em 1328 escolheu a cidade para sua residência oficial, e do cosmopolita da Rússia, o que a tornou "cidade santa". Depois da queda de Constantinopla em poder dos turcos, em 1453, a pintura de ícones sofreu profundas mudanças, abrindo caminho ao surgimento de uma arte nacional. Registrou-se um desaparecimento gradual dos elementos helenísticos dos ícones -- a paisagem e a arquitetura --, as basílicas gregas foram substituídas por igrejas russas e os santos nacionais tornaram-se temas comuns.

Mesmo quando projetadas por estrangeiros, essas igrejas , como as do Kremlin de Moscou, são em estilo russo-bizantino, embora em algumas, como a da Dormição de Maria, construída entre os anos de 1475 e 1479, haja muitos elementos barrocos na decoração interna. Os tipos moscovitas e os costumes nativos começaram a figurar nas obras e pouco a pouco o ícone transformou-se na grande forma da arte nacional russa. A escola moscovita incorporou características das tradições bizantina e novgorodiana. No final do século XVI, a escola de Stroganov introduziu o ícone miniaturizado, e os mestres dessa maneira de pintar tornaram-se famosos por suas figuras elegantes, os tons orientais de seu colorido e o tratamento elaborado dos detalhes. Alguns deles, como Prokopii Chirin, Nikofor e Istoma Savin, ligaram-se mais tarde aos ateliês de pintura de ícones existentes no Kremlin. No fim do século XVII, contudo, influências ocidentais difundiram-se por toda a Rússia.

Período petersburguês (1703-1917)
A fundação de São Petersburgo por Pedro o Grande, em 1703, assinalou o início da substituição da influência bizantina pela ocidental. Artistas estrangeiros começaram a chegar ao país, enquanto jovens russos eram enviados à Itália, França, Holanda e Inglaterra para estudar pintura e arquitetura. A arte religiosa cedeu então lugar à pintura secular. Da Academia de Belas-Artes, dirigida por artistas estrangeiros, saíram alguns notáveis retratistas russos, como Ivan Argunov, Anton Pavlovitch Loenko e Fedor Rokotov.

O advento do classicismo ocorreu no reinado de Catarina a Grande, entre os anos de 1762 e 1796, durante o qual a influência estrangeira se fez sentir mais profundamente. Apesar das incursões aos novos gêneros, como a decoração de interiores e o paisagismo, os pintores dedicavam crescente atenção ao retrato. Os grandes artistas, como Dimitri Levitski e Vladimir Borovikovski, limitavam-se a pintar retratos de personalidades da aristocracia.

Em 1812 a invasão da Rússia por Napoleão assinalou o ressurgimento da consciência nacional e o início da controvérsia entre ocidentalistas e eslavófilos. Ao mesmo tempo, porém, a Rússia aderia ao espírito do romantismo europeu, cujos principais representantes foram Orest Kiprenski, Vassili Tropinin e Karl Briullov. Tendências diferentes surgiram nas obras do pintor religioso Aleksandr Ivanov, dos pintores realistas Alexei Venetsianov e Pavel Fedotov, e dos escultores Ivan Petrovitch Martos, I. Vitali e F. Tolstoi, todos clássicos.

A segunda metade do século XIX marcou o advento da era realista, cujos mais destacados representantes foram os artistas integrantes da Sociedade Peredvijniki, especialmente Ivan Kramskoi, Ilia Repin, Vassili Surikov, Vassili Perov e Vassili Vereshtchagin. Os membros dessa sociedade adotavam como credo artístico o realismo, o sentimento nacional e a consciência social. As idéias do grupo Peredvijniki predominaram no país por cerca de trinta anos e só entraram em declínio no final do século (1898), após o surgimento da revista Mir Iskusstva, editada por Serguei Diaghilev, K. Somov e Aleksandr Benois, que combatia os baixos padrões artísticos do grupo Peredvijniki e defendia uma síntese das tendências ocidentais com a tradição russa.

As mais importantes contribuições do grupo formado em torno da Mir Iskusstva foram nos campos das artes gráficas e da cenografia. No início do século XX sucederam-se diversas escolas, entre as quais o Grupo Bubnovii Valet, o cubismo, o construtivismo, o suprematismo, o expressionismo, todas tentando conciliar a tradição nacional com as teorias estrangeiras.

Período soviético (1918-1990)
Logo após a revolução socialista de 1917, o regime soviético favoreceu a arte de vanguarda e apoiou modernistas extremados como Vassili Kandinski, Kasimir Malevitch, Marc Chagall, Vladimir Tatlin, Naum Gabo e El Lissitzki. Mais tarde, porém, o governo voltou-se contra os ensinamentos desses abstracionistas e não-objetivistas, acusando-os de fazerem arte capitalista cosmopolita, ininteligível e desligada da realidade social. Os grupos de extrema esquerda -- os chamados formalistas -- foram dissolvidos e sua estética conflitante cedeu lugar à estética do realismo socialista, que logo se transformou no academicismo sem vida que dominou toda a arte do governo de Stalin.

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Nesse período, os artistas procuraram representar o "novo homem soviético", pintando ou esculpindo operários, camponeses ou temas ligados ao trabalho e ao lazer, como se pode ver nas obras de Vera Mukhina, Gavriil Gorelov, Serguei Gerasimov e Arkadi Plastov. Com o fim da era stalinista, no início da década de 1950, registrou-se um clima de maior liberdade artística. As imposições oficiais foram abrandadas e o artista conquistou maior liberdade de expressão.
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