Arte Pré-colombiana
Arte pré-colombiana é o termo empregado para designar todas as manifestações artísticas dos povos da América no período anterior à chegada dos europeus. Como muitos dos textos escritos por maias e astecas se perderam durante a conquista ou não puderam ser completamente decifrados, as informações sobre as culturas pré-colombianas foram obtidas sobretudo por meio das crônicas dos conquistadores espanhóis e das manifestações artísticas e técnicas que foram conservadas.
Longe da influência cultural da Europa e Ásia, os povos pré-colombianos da América desenvolveram suas próprias formas artísticas e atingiram, em muitos casos, um alto nível de perfeição técnica e originalidade estética. Grande parte da arte pré-colombiana, mais evoluída e rica nas áreas das grandes civilizações continentais, é conhecida apenas pelas pesquisas arqueológicas, pois a maioria dos objetos, documentos e construções foi destruída pelos conquistadores e colonizadores europeus.
O interesse pelo estudo arqueológico das civilizações americanas data de 1839, quando o americano John Lloyd Stephens iniciou a exploração das ruínas maias no México e na América Central. Suas pesquisas, sobretudo as realizadas nas cidades de Uxmal e Palenque, despertaram o interesse dos historiadores, que começaram a estudar os relatos dos conquistadores espanhóis, até então esquecidos. Edward Herbert Thompson deu prosseguimento à investigação arqueológica e antropológica sobre os maias, principalmente em Chichén Itzá. No vale do México, Claude-Joseph-Désiré Charnay e Alfonso Caso se destacaram como os principais pesquisadores das ruínas pré-colombianas, e Max Uhle e Julio César Tello, entre outros arqueólogos, estabeleceram a cronologia das culturas do Peru.
No continente americano floresceram dois pólos de desenvolvimento cultural: a área andina e a região da América Central. Nessas zonas sucederam-se, desde o segundo milênio anterior à era cristã, diversas civilizações com características muito específicas e diferenciadas. Outros povos de áreas próximas também evoluíram em conseqüência do contato com as grandes civilizações. Mesmo quando se leva em conta a grande diversidade humana e cultural de todas essas sociedades, vários traços comuns podem ser apontados, por todo o continente, como característicos da evolução cultural do homem especificamente americano.
A partir de um estágio cultural correspondente ao paleolítico de outras regiões do globo, as várias culturas dos povos ameríndios evoluíram em ritmos e direções diferentes até alcançar, nos casos mais avançados, um grau de civilização neolítica semelhante em muitos aspectos ao das antigas culturas da Mesopotâmia, Egito, China e Índia. Assim, praticou-se na América uma economia agrícola e pecuária adaptada às condições naturais locais e aperfeiçoada com sistemas de irrigação, construção de terraços nas encostas montanhosas, plantações flutuantes feitas sobre jangadas (as chinampas do México e da América Central) etc. Para organizar a sociedade agrícola, foram adotadas formas sociais e políticas complexas, com base no poder teocrático e na rígida estratificação das classes de acordo com suas funções. Nas áreas da ciência e da tecnologia registraram-se notáveis progressos, sobretudo em astronomia, matemática e medicina. Também foram criadas formas de escrita (hieróglifos maias e astecas) e de cálculo (os quipos andinos).
A produção artística é talvez a que melhor expressa a mentalidade e capacidade criativa dos povos pré-colombianos. A arquitetura teve grande desenvolvimento, que se manifestou na construção de majestosos templos e palácios e, sobretudo na área andina, no traçado de caminhos pavimentados de pedras. Outras artes importantes foram a escultura, a pintura, a cerâmica, o artesanato têxtil, a plumária, a cestaria, a ourivesaria etc. Cabe assinalar, no entanto, como fatores diferenciadores das civilizações pré-colombianas em relação às do Velho Mundo, a ausência de alguns elementos de grande importância na evolução cultural humana, como a roda, o torno de olaria e o arado. Além disso, a metalurgia alcançou nível apenas incipiente e não se desenvolveram técnicas avançadas de navegação.
Arte maia
A civilização maia se desenvolveu na península de Yucatán e nos atuais territórios de Honduras e Guatemala. Suas principais manifestações artísticas foram a arquitetura e a escultura, muito relacionadas entre si. O caráter eminentemente social e cerimonial das construções conferiu-lhes uma aparência espetacular. Seus principais elementos foram as grandes plataformas retangulares de pedra, as paredes de terra batida revestidas de argamassa ou pedra talhada, e os sistemas de cobertura, que incluíam um tipo de teto com falsa abóbada. Muito importante é a profusa decoração escultórica (estuque e relevos) das fachadas e escadas externas de pirâmides e palácios, como os de Copán, Quiriguá, Chichén Itzá, Palenque etc.
Além dos templos e palácios, outras construções características foram as praças para jogos de bola, entre as quais se destaca a de Chichén Itzá, e os observatórios astronômicos, como o de El Caracol, na mesma cidade. Um tipo singular de edificação, dentro do conjunto da arquitetura pré-colombiana, é a torre de Palenque.
Na escultura destacam-se os relevos em estuque e as estelas comemorativas, em geral decoradas com motivos simbólicos ou hieroglíficos. São características a representação de figuras de serpentes (de que derivam outras formas, inclusive a grega-em-escada, típica da arte americana), a profusão decorativa, a tendência ao naturalismo e a elegância das composições. Os escultores maias realizaram também notáveis estátuas e miniaturas.
Da arte pictórica, os exemplos mais significativos são os afrescos, de estilo realista e vivo colorido, conservados na cidade de Bonampak. A cerâmica, que empregava técnicas de modelagem e moldagem, era decorada com motivos pintados ou em relevo. Sua evolução pode ser seguida a partir das estatuetas primitivas de Uaxactún (todas representando mulheres) e Chicanel (estatuetas e vasos de formas simples, vermelhos e negros), até os vasos estilizados de Tsakol (fase de cerâmica mais apurada, com grande diversidade de formas e estilização acentuada), e Tepeu, a fase final, caracterizada pela delicadeza das formas dos vasos, decorados com cenas e inscrições. Numa fase posterior, nos séculos XI e XII, a influência das culturas do centro do México se manifestou no estilo Puuc.
Os três únicos manuscritos, ou códices maias já encontrados se acham em Dresden, Paris e Madri. Compostos de longas tiras de papel feito de casca de fícus, são pintados em ambos os lados com cenas figurativas e inscrições hieroglíficas. Esses códices, que versam sobre cálculos astronômicos, magia e rituais, são, aparentemente, cópias relativamente recentes de originais mais antigos. Do artesanato têxtil somente se conhecem fragmentos de tecidos de algodão, com pinturas e relevos de figuras que denotam amplo desenvolvimento das técnicas de confecção com fibras de algodão e plumas de pássaros, especialmente o quetzal, considerado divino. Dos trabalhos em jadeíta restam alguns exemplos, como a placa de Leyden (Tikal) e a do Museu Britânico, de extraordinária perfeição.
Culturas do centro do México
Entre os anos 1000 a.C. e 1200 da era cristã, os olmecas desenvolveram algumas das primeiras civilizações da área central do México. Povos de cultura agrícola, entre suas expressões artísticas destaca-se a confecção de pequenas figuras de jade e de grandes cabeças humanas. Também conheceram a cerâmica e a borracha. Nas formas decorativas da cerâmica são muito características as efígies de um deus-jaguar e de uma figura infantil sorridente. Túmulos, estelas e esculturas monumentais foram preservados nos centros cerimoniais olmecas, dos quais são características as pirâmides em degraus, como as de Cuicuilco.
Os zapotecas, no estado de Oaxaca, desenvolveram um calendário e um tipo de escrita de influência maia. Os tarascos, em Michoacán, confeccionaram peças de cerâmica com formas muito aperfeiçoadas de homens e animais.
No cenário clássico das civilizações americanas, destacou-se Teotihuacan, onde se encontram alguns dos monumentos arquitetônicos mais impressionantes do continente: as pirâmides do Sol, com quatro patamares e mais de sessenta metros de altura, e da Lua, o templo de Quetzalcóatl e outros. No templo da Agricultura se conservam os restos de belos afrescos. O vasto quadrilátero fortificado da cidadela também é ornado com cabeças em pedra da serpente-de-plumas, que se alternam com as do deus-do-raio.
A partir do ano 900, os toltecas ocuparam Teotihuacan e, da cidade de Tula, impuseram seu domínio militar a grande parte do território mexicano. Fazem parte de sua produção artística os trabalhos em metal, os pórticos monumentais e as estátuas gigantes. Em Tula existem ruínas de várias pirâmides e colunas decoradas com serpentes emplumadas e figuras humanas. Em Xochicalco ("casa das flores"), perto de Cuernavaca, encontram-se relevos de figuras similares.
Os astecas, estabelecidos em Tenochtitlan a partir de 1325, herdaram as tradições artísticas de maias, teotihuacanos e toltecas. Em sua arquitetura aparecem as clássicas pirâmides retangulares, mas com escassa decoração em relevos, esculturas e afrescos. Entre as esculturas, destaca-se a figura de Coatlicue, mãe do deus da guerra; a "Cabeça do cavaleiro-águia", de caráter naturalista; a "Pedra do Sol" e inúmeras estatuetas feitas em jade, obsidiana, opala e cristal de rocha. A ourivesaria asteca recebeu influências dos mixtecas, que atingiram grande perfeição na execução de jóias, como demonstram as encontradas em Monte Albán.
Os códices astecas são semelhantes aos dos maias, mas apresentam um colorido mais vivo. Alguns são calendários em que se narram e representam feitos históricos. Outras técnicas artísticas cultivadas por essa civilização foram o mosaico, em que predominam a cor negra da obsidiana e o verde-azulado da turquesa, além das plumas coloridas que enfeitavam chapéus, escudos e mantos.
Peru
Ao longo de mais de dois mil anos, os povos do litoral e das montanhas do Peru criaram uma cultura original e nitidamente diferenciada daquelas da América Central. Em meados do século XV da era cristã os incas se impuseram na região e assimilaram os costumes e a arte das civilizações que os precederam: chavín, nos Andes centrais; paracas e nazca, na costa meridional; huari e tiahuanaco, na zona central e meridional; e mochica e chimú, na costa setentrional.
A arquitetura andina distinguiu-se da mexicana pela sobriedade. No litoral, as construções foram feitas com adobe, enquanto nas regiões montanhosas predominou a pedra. São da época anterior à consolidação do império inca alguns edifícios notáveis, como o Castillo, templo em degraus de Chavín de Huántar, em cujo interior se encontram baixos-relevos, esculturas e peças de cerâmica; o palácio mochica de Huaca del Sol, feito de adobe; e, correspondente à cultura de Tiahuanaco, a pirâmide em degraus de Apacana, a Porta do Sol de Calasaya e os chulpas, pequenas torres funerárias que se erguem isoladas nas proximidades do lago Titicaca.
Datam do período inca os numerosos e gigantescos monumentos conservados em Cuzco, feitos de grandes pedras encaixadas com extraordinária precisão. A planta dos edifícios costuma ser retangular, com alguns casos de formas redondas. São também interessantes as ruínas de Ollantaytambo e Machu-Picchu.
A cerâmica foi talvez a arte mais original da área andina. Os diferentes estilos e técnicas locais constituíram o ponto de referência fundamental para a compreensão da evolução e sucessão das culturas pré-colombianas da região. Cada uma dessas culturas criou suas próprias formas na cerâmica, embora as influências mútuas ao longo dos séculos tenham dado lugar a uma série de características comuns.
Em Chavín e Paracas foi muito freqüente a decoração, entalhada ou pintada, com a figura de felinos. Em Tiahuanaco e Huari mantiveram-se esses motivos e se introduziu um tipo peculiar de decoração policrômica. A cerâmica de Tihuanaco, vermelha ou alaranjada e bastante espessa, tem como forma mais difundida o timbale com uma cascavel pintada que se enrosca no vaso e cuja cabeça (que às vezes é a de um puma) em relevo se destaca na borda superior.
A cerâmica de Nazca foi especialmente notável, com vasilhames de finíssima espessura, muito polidos, bem cozidos e decorados com motivos vegetais ou animais em várias cores. Os temas são frutos, flores, tubérculos, cactos, pelicanos, falcões, papagaios, renas, serpentes e peixes, mas é a cabeça humana (intacta ou mutilada, reduzida e mumificada ou como troféu sangrento) que ocupa o primeiro plano. Destacam-se também as peças mochicas, em forma de animais, frutas e crânios humanos, decoradas em tons monocromáticos com figuras de guerreiros, animais fantásticos e cenas familiares e mitológicas. No período chimú desapareceram as cenas pintadas e, em Recuay, surgiu um tipo de vaso de argila branqueada com decoração entalhada sobre fundo vermelho ou negro. Na época do império inca, a cerâmica se empobreceu em formas e motivos decorativos e tornou-se mais utilitária.
Nas civilizações andinas, o artesanato têxtil alcançou seu nível mais elevado. Os materiais empregados foram o agave, o algodão e a lã fina das lhamas e alpacas. Os tecidos, muitos dos quais preservados nos túmulos graças ao clima seco, como em Paracas, eram confeccionados mediante técnicas muito diversas e estampados com motivos decorativos em cores vivas. Os peruanos conheciam todos os tipos de tecidos, entre eles tela, sarja, gaze, estofo bordado, tapeçaria etc. Também foram utilizadas plumas de aves para a confecção de belos mantos e chapéus. A ourivesaria e o trabalho em metal produziram brincos, enfeites para o nariz (narigueras), placas peitorais etc. Muitas das jóias dos soberanos e templos incas foram destruídos pelos conquistadores europeus.
Outras áreas
Fora das regiões de alta civilização, a arte dos povos ameríndios adotou modalidades muito diversas e não menos interessantes. Os esquimós das regiões árticas realizaram máscaras rituais de madeira, esculturas e gravuras em osso e marfim. Em outras áreas da América do Norte, desenvolveram-se também as gravuras e esculturas em madeira, assim como trabalhos têxteis e cestaria. Algumas culturas do Novo México, como a denominada pueblo, construíram povoados de adobe e conheceram a cerâmica.
América Central
Na América Central, os chorotegas fabricaram uma cerâmica de formas simples e os índios da Nicarágua e da Costa Rica realizaram em barro peças utilizadas como incensórios e ocarinas, assim como figuras votivas. Na Colômbia, faz-se notar a influência peruana na escultura monumental, ainda que a principal atividade artística dos povos dessa área tenha sido a ourivesaria, sobretudo entre os chibchas. Nas áreas do Equador, Amazônia, Chile e Argentina, as culturas mais evoluídas, como a dos araucanos, desenvolveram formas de cerâmica decorada.
Chile e Argentina
No norte do Chile e noroeste da Argentina encontraram-se cerâmicas e objetos em madeira esculpidos. Os povos atacameho e diaguita mantiveram-se num estádio cultural rudimentar. Os primeiros usaram a madeira na confecção de flautas, timbales e pequenos sinos, além de tubos para aspirar fumo, com decoração que lembra Tiahuanaco. Na cerâmica dos atacamehos destacam-se as urnas funerárias de crianças, cujo tipo mais puro provém de Santa Maria, de rica decoração. Em Ciénaga e La Aguada desenterraram-se vasos que merecem atenção. Em alguns, de cor negra ou cinza-escura, uma decoração gravada representa guerreiros e a grega-em-escada; outros são policrômicos, de argila muito fina e cores delicadas (amarelo, marrom e violeta). Perto de Santiago del Estero, a cerâmica tem cores vivas e cruas, e encontraram-se urnas funerárias, vasos e estatuetas.
Esquimós. A arte dos esquimós, organizados em pequenos grupos nas vastas regiões árticas, do Alasca à Groenlândia, compreende máscaras rituais em madeira, esculturas e gravuras em osso de baleia, de caribu e em marfim de dente de morso. As gravuras sobre plaquetas de marfim são destinadas a registrar algum fato importante ou servem como veículo de comunicação com pessoas que não falam a mesma língua.
Esquimós. A arte dos esquimós, organizados em pequenos grupos nas vastas regiões árticas, do Alasca à Groenlândia, compreende máscaras rituais em madeira, esculturas e gravuras em osso de baleia, de caribu e em marfim de dente de morso. As gravuras sobre plaquetas de marfim são destinadas a registrar algum fato importante ou servem como veículo de comunicação com pessoas que não falam a mesma língua.
Tribos do noroeste (costa norte do Pacífico e regiões vizinhas)
As tribos que trabalham a madeira e esculpem em alto-relevo incluem: os tlinghits e os haidas, ao sul dos esquimós; os tsimshians nas margens do Nasse e do Skeena; os kwakiults, na ilha de Vancouver e, mais ao norte, os salishs e os athapascans. Há dois tipos de arte decorativa: desenhos gravados, pintados ou não, quando se trata de objetos utilitários; escultura em alto-relevo na representação de seres mitológicos ou fatos históricos. São famosos os mastros esculpidos que representam um mito coletivo, as armas da família e ancestrais metamorfoseados em sapos, águias, etc. A cestaria revela grande habilidade, bem como os tecidos feitos de fibras de raiz de pinheiros e fios de lã.
Tribos das planícies (centro dos Estados Unidos e sul do Canadá). Os numerosos grupos nômades foram absorvidos pela civilização branca. Praticavam a cestaria e a cerâmica, trabalhavam a madeira (arcos e flechas). A pele animal, que substituía o tecido, era usada na confecção de mocassins e escudos de guerra, ornados com cenas pintadas.
Pueblos
Os navajos, os utas, os zuñis e os hopis (entre o norte do México e as montanhas Rochosas) moravam em cavernas cavadas em penedos altos, cujo único acesso era uma estreita escadaria talhada na rocha. Outros grupos erguiam suas casas dentro de um muro alto, feito de adobe, e ligadas a ele. Para penetrar no povoado, ou pueblo, como diziam os espanhóis, era preciso vencer o muro com escadas; no centro do pueblo, havia uma área circular cavada no subsolo e coberta (kiva), onde se realizavam cerimônias. Essas tribos ainda preservam as artes do passado: cestaria e cerâmica, hoje amplamente comercializadas.
Na região amazônica, a oeste, registrou-se a existência de uma bela cerâmica policrômica feita pelos omaias, que se perdeu totalmente. Seguindo o curso do rio, já em território brasileiro, há as cerâmicas de Santarém e de Marajó. Os galibis da Guiana francesa fabricavam até pouco tempo atrás uma cerâmica abundante de formas variadas, esculturas em madeira e notáveis trabalhos em cestaria, além da arte plumária comum entre as tribos da região amazônica.
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