A Bélgica Poderá Ser Dividida em Dois Países
Um abismo profundo continua dividindo a Bélgica em duas partes: os flamengos, no norte do país, e os valões, no sul. Desde sua independência em relação aos Países Baixos, em 1830, a Bélgica é uma monarquia. Essa divisão foi impulsionada pelas classes alta e média de católicos, que falam francês e vivem no sul do país, numa região conhecida como Valônia.
O francês foi instituído como idioma administrativo oficial nas Forças Armadas, no Parlamento e como língua nas escolas do país. O holandês ou flamengo permaneceu como idioma considerado de servos e lavradores, continuando a ser falando principalmente na região de Flandres, mais populosa, mas também mais pobre. Nos primeiros anos de escola, a língua ainda era permitida, mas nos últimos anos escolares elas transcorriam apenas em francês.
Os pequeno-burgueses do norte flamengo começaram a resistir contra a repressão de seu idioma. Aos poucos, foi se formando o Movimento Flamengo. O ano de 1873 é considerado um marco na oficialização do holandês como língua oficial, também para o contato com departamentos públicos, tribunais e nos últimos anos escolares.
Em contrapartida, os valões que viviam na região de Flandres também fundaram, no fim do século 19, um movimento de defesa do francês contra o bilinguismo naquela região. Mais tarde, isso viria a ocorrer também no sul do pais, na região conhecida como Valônia, pois os valões começaram a temer os cidadãos de língua flamenga de Flandres, mais numerosos que eles.
Bruxelas: dois idiomas são permitidos
A divergência idiomática é até hoje um assunto no país. Apenas a capital Bruxelas continua sendo uma exceção neste contexto, sem pertencer em termos de língua nem à região dos flamengos nem à dos valões, embora geograficamente esteja localizada em Flandres. Bruxelas e seus arredores são bilíngues, formando uma terceira região belga, além da Valônia e de Flandres.
Estas duas, porém, continuam brigando. Há três anos, os prefeitos de língua francesa em três distritos de Bruxelas, que pertencem a Flandres, não são reconhecidos pelo governo regional. Alguns flamengos temem por seus direitos: "Este solo é flamengo e foi conquistado à custa de luta. Os francófonos não têm nada a ver com isso e na verdade nem deveriam estar aqui", afirma um belga flamengo.
Norte rico, sul mais pobre
Embora o conflito entre flamengos e valões se refira, sobretudo, ao idioma, há interesses econômicos por trás. Nos anos 1960, a economia do norte flamengo foi fortalecida, com um boom da indústria química, e a pobreza foi rapidamente eliminada. O sul valão, com sua indústria siderúrgica, foi empobrecendo.
Hoje, os aproximadamente 6 milhões de flamengos, relativamente pobres se comparados aos cerca de 4 milhões de valões do sul, acabam transferindo recursos para auxiliar seus compatriotas francófonos. Diante disso, os flamengos desejam, há anos, obter uma maior autonomia financeira para sua região – proposta rejeitada com veemência pelos habitantes da Valônia, onde os índices de desemprego são mais altos e a população teme não conseguirem mais arcar com os custos sociais.
Seis meses após as eleições antecipadas, a Bélgica encontra-se ainda sem um governo. Os membros da Nova Aliança Flamenga, que festejaram a vitória nas urnas com todas pompa, fracassaram na tentativa de formar uma coalizão de governo da mesma forma que os socialistas valões. Segundo foi noticiado na mídia, um grêmio reuniu-se em Paris, em dezembro, a fim de encontrar uma solução para o país de 10 milhões de habitantes.
Sua proposta é: os flamengos, mais estáveis economicamente, permaneceriam como um Estado novo e soberano. O presidente francês, Nicolas Sarkozy, segundo consta, já estaria festejando a inclusão da Valônia francófona, inclusive de Bruxelas, a seu país. E a pequena comunidade que fala alemão, situada nas redondezas de Aachen, poderia ser anexada a Luxemburgo, uma possibilidade que vem sendo sondada há semanas.
"A Bélgica não tem mais futuro"
Para muitos, a culpa deste dilema é do nacionalista flamengo Bart de Wever, cujo partido NVA saiu vitorioso das urnas nos Flandres, região mais populosa do país, em junho último. À pergunta do semanário alemão Der Spiegel sobre quanto tempo a Bélgica ainda continuará existindo, Bart de Wever afirmou que ela "não tem mais futuro". Segundo ele, o país é "pequeno demais para ter grandes ambições políticas".
De Wever joga a culpa pelo fracasso das negociações nos socialistas francófonos, que, segundo ele, se opõem a qualquer reforma. "Os valões, sobretudo os socialistas francófonos, são o partido mais forte e bloqueiam qualquer reforma. Por isso, digo: a Bélgica não funciona mais, o país fracassou", julga o presidente do NVA.
Parte do omelete europeu
Mas o que pode acontecer se a Bélgica realmente deixar de existir? "Se o país for descentralizado ou até mesmo se dividir algum dia, ainda assim continuamos na União Europeia. Se o ovo belga se quebrar, continuamos a ser um omelete europeu", explica despreocupado à Deutsche Welle o historiador belga Dirk Rochtus, da Universidade de Antuérpia.
Há quem veja a situação com maior temor. A Comissão Europeia categoriza o país como falido. Nos bastidores da Comissão, acredita-se que a Bélgica irá ser obrigada a apelar para o fundo de apoio em tempos de crise da UE antes mesmo da Espanha, no início de 2011. O mais irônico é que Yves Leterme, que já não é primeiro-ministro belga, ainda ocupa até o fim do ano o cargo de presidente do Conselho da UE, assumindo a responsabilidade de combater a crise do euro. Mesmo que em casa ele tenha seus próprios e árduos problemas.
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O francês foi instituído como idioma administrativo oficial nas Forças Armadas, no Parlamento e como língua nas escolas do país. O holandês ou flamengo permaneceu como idioma considerado de servos e lavradores, continuando a ser falando principalmente na região de Flandres, mais populosa, mas também mais pobre. Nos primeiros anos de escola, a língua ainda era permitida, mas nos últimos anos escolares elas transcorriam apenas em francês.
Os pequeno-burgueses do norte flamengo começaram a resistir contra a repressão de seu idioma. Aos poucos, foi se formando o Movimento Flamengo. O ano de 1873 é considerado um marco na oficialização do holandês como língua oficial, também para o contato com departamentos públicos, tribunais e nos últimos anos escolares.
Em contrapartida, os valões que viviam na região de Flandres também fundaram, no fim do século 19, um movimento de defesa do francês contra o bilinguismo naquela região. Mais tarde, isso viria a ocorrer também no sul do pais, na região conhecida como Valônia, pois os valões começaram a temer os cidadãos de língua flamenga de Flandres, mais numerosos que eles.
A divergência idiomática é até hoje um assunto no país. Apenas a capital Bruxelas continua sendo uma exceção neste contexto, sem pertencer em termos de língua nem à região dos flamengos nem à dos valões, embora geograficamente esteja localizada em Flandres. Bruxelas e seus arredores são bilíngues, formando uma terceira região belga, além da Valônia e de Flandres.
Estas duas, porém, continuam brigando. Há três anos, os prefeitos de língua francesa em três distritos de Bruxelas, que pertencem a Flandres, não são reconhecidos pelo governo regional. Alguns flamengos temem por seus direitos: "Este solo é flamengo e foi conquistado à custa de luta. Os francófonos não têm nada a ver com isso e na verdade nem deveriam estar aqui", afirma um belga flamengo.
Norte rico, sul mais pobre
Embora o conflito entre flamengos e valões se refira, sobretudo, ao idioma, há interesses econômicos por trás. Nos anos 1960, a economia do norte flamengo foi fortalecida, com um boom da indústria química, e a pobreza foi rapidamente eliminada. O sul valão, com sua indústria siderúrgica, foi empobrecendo.
Hoje, os aproximadamente 6 milhões de flamengos, relativamente pobres se comparados aos cerca de 4 milhões de valões do sul, acabam transferindo recursos para auxiliar seus compatriotas francófonos. Diante disso, os flamengos desejam, há anos, obter uma maior autonomia financeira para sua região – proposta rejeitada com veemência pelos habitantes da Valônia, onde os índices de desemprego são mais altos e a população teme não conseguirem mais arcar com os custos sociais.
Seis meses após as eleições antecipadas, a Bélgica encontra-se ainda sem um governo. Os membros da Nova Aliança Flamenga, que festejaram a vitória nas urnas com todas pompa, fracassaram na tentativa de formar uma coalizão de governo da mesma forma que os socialistas valões. Segundo foi noticiado na mídia, um grêmio reuniu-se em Paris, em dezembro, a fim de encontrar uma solução para o país de 10 milhões de habitantes.
Sua proposta é: os flamengos, mais estáveis economicamente, permaneceriam como um Estado novo e soberano. O presidente francês, Nicolas Sarkozy, segundo consta, já estaria festejando a inclusão da Valônia francófona, inclusive de Bruxelas, a seu país. E a pequena comunidade que fala alemão, situada nas redondezas de Aachen, poderia ser anexada a Luxemburgo, uma possibilidade que vem sendo sondada há semanas.
"A Bélgica não tem mais futuro"
Para muitos, a culpa deste dilema é do nacionalista flamengo Bart de Wever, cujo partido NVA saiu vitorioso das urnas nos Flandres, região mais populosa do país, em junho último. À pergunta do semanário alemão Der Spiegel sobre quanto tempo a Bélgica ainda continuará existindo, Bart de Wever afirmou que ela "não tem mais futuro". Segundo ele, o país é "pequeno demais para ter grandes ambições políticas".
De Wever joga a culpa pelo fracasso das negociações nos socialistas francófonos, que, segundo ele, se opõem a qualquer reforma. "Os valões, sobretudo os socialistas francófonos, são o partido mais forte e bloqueiam qualquer reforma. Por isso, digo: a Bélgica não funciona mais, o país fracassou", julga o presidente do NVA.
Parte do omelete europeu
Mas o que pode acontecer se a Bélgica realmente deixar de existir? "Se o país for descentralizado ou até mesmo se dividir algum dia, ainda assim continuamos na União Europeia. Se o ovo belga se quebrar, continuamos a ser um omelete europeu", explica despreocupado à Deutsche Welle o historiador belga Dirk Rochtus, da Universidade de Antuérpia.
Há quem veja a situação com maior temor. A Comissão Europeia categoriza o país como falido. Nos bastidores da Comissão, acredita-se que a Bélgica irá ser obrigada a apelar para o fundo de apoio em tempos de crise da UE antes mesmo da Espanha, no início de 2011. O mais irônico é que Yves Leterme, que já não é primeiro-ministro belga, ainda ocupa até o fim do ano o cargo de presidente do Conselho da UE, assumindo a responsabilidade de combater a crise do euro. Mesmo que em casa ele tenha seus próprios e árduos problemas.
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