Legado de Luís Xiv na Moda e nos Costumes da Humanidade
Gabriela Carelli (Veja.com)
Luís XIV governou a França durante um de seus períodos de maior prosperidade. Entre 1643 e 1715, ele estendeu as fronteiras e contribuiu para o fortalecimento do país como potência política e econômica. Também patrocinou o trabalho de escritores como Voltaire e do dramaturgo Molière, próceres do iluminismo, movimento que arejou o pensamento ocidental. Outra contribuição importante do monarca à posteridade não costuma figurar nos livros de história: Luís XIV inventou o luxo tal como o conhecemos hoje. Os diamantes e o champanhe, por exemplo, tornaram-se sinônimo de sofisticação e glamour em seu reinado. Os sapatos de salto alto, indispensáveis para as mulheres elegantes, foram ideia dos artesãos palacianos. A gastronomia francesa, com seus chefs, e a alta-costura, com seus estilistas-estrelas, apareceram durante seu reinado, assim como as butiques, as grifes e os salões de cabeleireiros.
Desde o antigo Egito, todas as monarquias se cercam de luxos e riquezas. A diferença, no caso de Luís XIV, é que o estilo de sua corte se perpetuou. A explicação para isso é que, sob o cetro de Luís XIV, o luxo deixou de ser exclusividade dos nobres para se transformar em objeto de consumo. A Europa ficou fascinada pelas criações da corte francesa. Todos queriam roupas, móveis e receitas culinárias vindas da França – há até um estilo de móveis e pinturas chamado Luís XIV. Já naquela época os franceses souberam se aproveitar desse sucesso e transformaram a moda, os perfumes e a gastronomia em indústrias que desde então só fizeram crescer e, hoje, são alicerces da economia do país.
Esse legado do Rei Sol, como era conhecido em seu tempo, está descrito no recém-lançado The Essence of Style (A Essência do Estilo), da americana Joan DeJean, especialista em cultura francesa, da Universidade da Pensilvânia. "Luís XIV era obcecado pela ideia de que ostentar o luxo era uma forma de demonstrar poder", disse DeJean a VEJA. Segundo a pesquisadora, o apreço do rei pelo luxo não era apenas uma questão de vaidade, mas parte da estratégia de promoção da França. Paris deveria ser admirada por um esplendor que deixava na sombra seus principais rivais, Londres e Amsterdã. Para tornar mais eficiente essa, digamos, ação de marketing, o rei contava com a valiosa colaboração de seu ministro das Finanças, Jean-Baptiste Colbert. Foi dele a idéia de lançar o primeiro jornal de moda, o Mercure Galant, para fazer com que as roupas parisienses ficassem conhecidas e fossem cobiçadas em toda a Europa. Foi nas páginas do jornal, a partir de 1670, que Colbert difundiu uma de suas ideias mais célebres: a de que as coleções deveriam mudar a cada estação do ano – conceito que ainda é lei no mundo da moda.
Luís XIV cuidava para que sua imagem pessoal refletisse poder em todos os detalhes. Esmerou-se na construção de palácios suntuosos, como o de Versailles. Um dos aposentos mais famosos do palácio, a sala dos espelhos, saiu de sua imaginação. Há 300 anos, o espelho era uma preciosidade. Alguns poucos exemplares eram feitos por vidraceiros de Veneza, mas eram pequenos, irregulares e muito caros. Em 1660, Luís XIV levou a tecnologia dos espelhos para a França e mandou que se produzissem peças em tamanho grande, capazes de cobrir paredes inteiras, próprias para "enobrecer um ambiente e multiplicar o brilho das superfícies, fazer tudo parecer maior do que a vida". Durante seu reinado, inventaram-se também quase todos os tipos de sapato usados hoje, incluindo as sandálias de salto alto, na época adotado por homens e mulheres – e, evidentemente, pelo rei. Até a gastronomia como é conhecida atualmente teve origem na época do Rei Sol. Ele considerava essencial dar estilo próprio à culinária francesa. As sobremesas surgiram desse empenho pela diferenciação. Até o fim do século XVII, os doces eram servidos com os alimentos salgados nas refeições.
Tudo o que o rei usava imediatamente se tornava moda. Foi o que ocorreu com os diamantes. Durante toda a Renascença, a pérola era considerada a mais nobre das joias. Um dia, um joalheiro mostrou ao monarca um diamante que havia trazido da Índia, e ele se apaixonou pela pedra. Em 1669, gastou o equivalente a 75 milhões de dólares para comprar todos os diamantes disponíveis e os tornou objetos desejados na Europa inteira. A paixão de Luís XIV pela sofisticação não apenas mudou hábitos e costumes como alterou o funcionamento das cidades. Foi dele a ideia de iluminar as ruas de Paris à noite. A vida parisiense também se transformou entre 1670 e 1680 com a inauguração das primeiras butiques. Antes, só se compravam roupas em armazéns ou por encomenda a costureiras. Com seu empenho em promover Paris como a metrópole da elegância, Luís XIV profissionalizou o luxo e o projetou para a história.
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Luís XIV governou a França durante um de seus períodos de maior prosperidade. Entre 1643 e 1715, ele estendeu as fronteiras e contribuiu para o fortalecimento do país como potência política e econômica. Também patrocinou o trabalho de escritores como Voltaire e do dramaturgo Molière, próceres do iluminismo, movimento que arejou o pensamento ocidental. Outra contribuição importante do monarca à posteridade não costuma figurar nos livros de história: Luís XIV inventou o luxo tal como o conhecemos hoje. Os diamantes e o champanhe, por exemplo, tornaram-se sinônimo de sofisticação e glamour em seu reinado. Os sapatos de salto alto, indispensáveis para as mulheres elegantes, foram ideia dos artesãos palacianos. A gastronomia francesa, com seus chefs, e a alta-costura, com seus estilistas-estrelas, apareceram durante seu reinado, assim como as butiques, as grifes e os salões de cabeleireiros.
Desde o antigo Egito, todas as monarquias se cercam de luxos e riquezas. A diferença, no caso de Luís XIV, é que o estilo de sua corte se perpetuou. A explicação para isso é que, sob o cetro de Luís XIV, o luxo deixou de ser exclusividade dos nobres para se transformar em objeto de consumo. A Europa ficou fascinada pelas criações da corte francesa. Todos queriam roupas, móveis e receitas culinárias vindas da França – há até um estilo de móveis e pinturas chamado Luís XIV. Já naquela época os franceses souberam se aproveitar desse sucesso e transformaram a moda, os perfumes e a gastronomia em indústrias que desde então só fizeram crescer e, hoje, são alicerces da economia do país.
Esse legado do Rei Sol, como era conhecido em seu tempo, está descrito no recém-lançado The Essence of Style (A Essência do Estilo), da americana Joan DeJean, especialista em cultura francesa, da Universidade da Pensilvânia. "Luís XIV era obcecado pela ideia de que ostentar o luxo era uma forma de demonstrar poder", disse DeJean a VEJA. Segundo a pesquisadora, o apreço do rei pelo luxo não era apenas uma questão de vaidade, mas parte da estratégia de promoção da França. Paris deveria ser admirada por um esplendor que deixava na sombra seus principais rivais, Londres e Amsterdã. Para tornar mais eficiente essa, digamos, ação de marketing, o rei contava com a valiosa colaboração de seu ministro das Finanças, Jean-Baptiste Colbert. Foi dele a idéia de lançar o primeiro jornal de moda, o Mercure Galant, para fazer com que as roupas parisienses ficassem conhecidas e fossem cobiçadas em toda a Europa. Foi nas páginas do jornal, a partir de 1670, que Colbert difundiu uma de suas ideias mais célebres: a de que as coleções deveriam mudar a cada estação do ano – conceito que ainda é lei no mundo da moda.
Luís XIV cuidava para que sua imagem pessoal refletisse poder em todos os detalhes. Esmerou-se na construção de palácios suntuosos, como o de Versailles. Um dos aposentos mais famosos do palácio, a sala dos espelhos, saiu de sua imaginação. Há 300 anos, o espelho era uma preciosidade. Alguns poucos exemplares eram feitos por vidraceiros de Veneza, mas eram pequenos, irregulares e muito caros. Em 1660, Luís XIV levou a tecnologia dos espelhos para a França e mandou que se produzissem peças em tamanho grande, capazes de cobrir paredes inteiras, próprias para "enobrecer um ambiente e multiplicar o brilho das superfícies, fazer tudo parecer maior do que a vida". Durante seu reinado, inventaram-se também quase todos os tipos de sapato usados hoje, incluindo as sandálias de salto alto, na época adotado por homens e mulheres – e, evidentemente, pelo rei. Até a gastronomia como é conhecida atualmente teve origem na época do Rei Sol. Ele considerava essencial dar estilo próprio à culinária francesa. As sobremesas surgiram desse empenho pela diferenciação. Até o fim do século XVII, os doces eram servidos com os alimentos salgados nas refeições.
Tudo o que o rei usava imediatamente se tornava moda. Foi o que ocorreu com os diamantes. Durante toda a Renascença, a pérola era considerada a mais nobre das joias. Um dia, um joalheiro mostrou ao monarca um diamante que havia trazido da Índia, e ele se apaixonou pela pedra. Em 1669, gastou o equivalente a 75 milhões de dólares para comprar todos os diamantes disponíveis e os tornou objetos desejados na Europa inteira. A paixão de Luís XIV pela sofisticação não apenas mudou hábitos e costumes como alterou o funcionamento das cidades. Foi dele a ideia de iluminar as ruas de Paris à noite. A vida parisiense também se transformou entre 1670 e 1680 com a inauguração das primeiras butiques. Antes, só se compravam roupas em armazéns ou por encomenda a costureiras. Com seu empenho em promover Paris como a metrópole da elegância, Luís XIV profissionalizou o luxo e o projetou para a história.
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