Era do Rádio de Woody Allen
Décadas de 30 e 40, marcadas pelos momentos áureos do rádio nos Estados Unidos. Esse período serviu de inspiração para Woody Allen escrever e dirigir o filme a Era do Rádio, gravado em 1987, esse longa traz em seu roteiro as lembranças de um garoto e sua família judia que vivia em Nova Iorque, e a influência que o rádio exercia sobre os membros da sua família e na sociedade durante a Segunda Guerra Mundial. Além disso, Woody Allen também narra alguns episódios fictícios do tempo de ouro do rádio norte-americano, e conta histórias, como se fosse o protagonista, relembrando sua infância vivida pelos programas de rádio da época.
Naquela época, o rádio tinha um importante papel como veículo de comunicação de massa. A melhor maneira de se manter informado sobre os acontecimentos de sua cidade e do mundo era através do rádio. A programação era recheada de atrações que agradavam os diversos públicos: noticiários, contos infantis, programas de auditório e radionovelas eram transmitidos a fim de informar e alegrar os ouvintes. As notícias eram narradas por correspondentes, e transmitidas ao vivo para várias cidades.
Ao longo do filme vários acontecimentos são relatados, deixando visível a forte relação que o rádio tinha com a sociedade. O filme mostra como toda a população norte-americana acompanhou apreensivamente a narrativa do ataque à base naval de Pearl Harbor e o resgate emocionante de uma garota que caiu em um poço. Woody Allen também explora bem o rádio como forma de lazer, quando mostra todos os membros da família do pequeno Seth escutando seus artistas e programas de rádio favoritos.
Além dessa outra demonstração da influência do rádio na vida das pessoas, e que realmente aconteceu e acabou sendo aproveitado no filme, foi o programa de Orson Welles, inspirado no livro A Guerra dos Mundos, de H.G. Wells. Na ocasião, Orson Welles transmitiu um programa especial do Dia das Bruxas, no ano de 1938, simulando uma série de relatos sobre invasões alieníginas à Terra. O programa causou tanto impacto que a bolsa de Nova Iorque caiu, e alguns norte-americanos, assustados com a notícia, cometeram suicídio.
A força do rádio também é apresentada através da personagem Sally White, que busca incessantemente trabalhar em um programa de rádio. Ela só consegue sua chance quando melhora sua oratória, porque no meio do rádio se utiliza apenas do som, nunca foi importante a aparência da pessoa. Isto fica evidente com o personagem que vive O Vingador no rádio. No programa, ele é o arquétipo de um super-herói, no entanto, na vida real ele é baixo, pouco atraente e careca.
O filme é interessante pois relata de forma bem humorada e nostálgica a era de maior impacto do rádio, já que na década seguinte ele perdeu espaço com a chegada da televisão. No entanto, mesmo com a sua decadência, podemos dizer, ao assistirmos o filme, que seu apelo foi mais profundo que o da televisão. Por se apoiar apenas no som, ele é naturalmente um veículo que exige mais atenção. Desta forma, naquela época, ele estimulava criativamente os ouvintes, pois cada um construía em sua cabeça aquilo que estava sendo transmitido. As histórias, portanto, ficavam no plano do imaginário, e é isso o que consiste o glamour dos programas radiofônicos.
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