História da Arquitetura Chinesa
Os jardins e as formas em perfeita harmonia com o meio ambiente são duas das principais características da arquitetura chinesa. A fragilidade da madeira, material que mais empregou, explica por que não sobreviveu à passagem dos séculos nenhum monumento arquitetônico do início da história do país, por volta do ano 2000 a.C. Mas pode-se ter uma idéia de como era essa antiga arquitetura por meio de textos ou regulamentos e pelos exemplos de construções tipicamente chinesas conservadas no Japão, sobre plataformas de pedra ou terra batida. Uma das mais conhecidas é o templo de Horyuji (Horyu-ji), nos arredores da cidade japonesa de Nara.
As formas
O plano de espaço quadrado ou oblongo murado e que se desenvolve ao longo de um eixo norte-sul (o que talvez tenha origem religiosa) constitui a unidade básica de uma casa, ou de uma cidade. No caso das cidades, no interior desse espaço erguiam-se os edifícios administrativos ou religiosos, assim como residências dotadas de pátios. Pouca diferença existia entre os edifícios religiosos e os seculares, porém a fachada principal dos prédios mais importantes era sempre voltada para o sul, pois se acreditava estar ao norte a fonte do mal. Evitava-se o luxo, e os exageros na ornamentação eram considerados indícios de incompetência administrativa.
Quanto à estrutura, a coluna é o elemento de sustentação. A principal unidade é uma ampla área central sobre uma plataforma elevada e dividida em áreas menores, denominadas chien. A área social, tang, situa-se diante ou dos dois lados do espaço central e às vezes existe ainda um anexo assobradado, o hsien. As unidades situadas a leste e a oeste da peça central não raro se tornam independentes, com pilastras e coberturas próprias. Observa-se com freqüência o tai, plataforma que de início servia como torre de observação. Em certas construções existe também a torre de madeira de dois ou três andares denominada lou, protótipo do pagode, ta. Na maioria das vezes, os prédios, com suas formas em perfeita harmonia com o meio ambiente, tinham um só andar e eram dotados de jardim. A cor era usada em profusão, mas sempre subordinada a rígidos esquemas legais. O amarelo, por exemplo, era reservado exclusivamente para os prédios imperiais.
O pagode, o mais típico exemplo da arquitetura chinesa, em geral se ergue isolado, junto a um templo, diante do vestíbulo que contém o altar com as imagens sagradas. Trata-se de um edifício de vários andares superpostos, cada um deles menor do que aquele sobre o qual se apóia, e que acaba sempre por um espigão adornado. Possui uma porta principal às vezes ladeada de dois bastiões simétricos, e duas laterais. O arco era conhecido desde o período Han (206 a.C.-220 da era cristã), utilizado sempre com moderação e para fins utilitários. Mais tarde reapareceria, por influência hindu, nos pórticos dos templos budistas.
História
Vestígios de vestíbulos com colunas sobre plataformas de pedra batida, fundações de uma cidadela com baluartes e tumbas de plano quadricular foram descobertos em Anyang (Ngan-yang), capital dos imperadores da primeira dinastia histórica, a dinastia Shang (1766-1122 a.C.). Sobre a arquitetura do período Zhou (Chou) (1122-255 a.C.), dispõe-se apenas de referências em textos literários. A forma arquitetônica mais refinada da época parece ter sido o ming tang, provavelmente um pátio real que se utilizava apenas durante certa parte do ano.
Uma arquitetura nacional chinesa surge durante a dinastia Qin (221-206 a.C.), no reinado do imperador Shi Huangdi (Shih Huang-ti), que construiu em sua capital inúmeros palácios, bem maiores e mais luxuosos que os edificados por seus antecessores. É justamente desse período que data a Grande Muralha, uma das mais importantes obras da arquitetura e da engenharia chinesas. Concebida para conter as invasões dos bárbaros do norte a partir de uma série de muralhas do período Zhou, ela se estende ao longo de 2.300km, (Shanhaiguan) de Shan-hai-kuan, no litoral da província de Hebei (Hopeh), até Jiuquan (Chiu-ch'uan), na província de Gansu (Kansu). Construída originalmente em terra batida, foi refeita à base de pedra e tijolos sob os imperadores da dinastia Ming (1368-1644). Em seu alto foi construída uma estrada de aproximadamente cinco metros de largura e a intervalos regulares erguem-se torres, cuja altura não excede os 12m.
Do período Han, resta uma única construção, a pequena capela funerária em pedra de Xiatangshan (Hsi t'ang-shan) que tem suas paredes ornamentadas com entalhes. Sabe-se, porém, que no período foi registrada uma intensa atividade no setor da construção, tanto na primeira capital, Changan (Sian), quanto na segunda, Luoyang (Lo-yang). Entre os prédios edificados nessa época, destacavam-se o palácio de Chang-lo e o ming t'ang de Wang Mang -- uma estrutura arredondada que repousa sobre base quadrada, de simbologia cósmica. No período, surge pela primeira vez o lou, protótipo do pagode.
Ao longo do período denominado das Seis Dinastias (221-589), a rápida expansão do budismo suscitou um grande incremento da construção de templos. Entre os anos de 530 e 570, já existiam nada menos que trinta mil templos apenas na China setentrional. O templo budista seguia a tradição e era dominado pelo pagode, parcialmente derivado do lou, mas talvez também da torre erguida em Peshawar, no atual Paquistão, com 13 andares encimados por um espigão de ferro do qual pendiam 13 discos de ouro. O edifício mais antigo desse período é o mosteiro do monte Sung, com detalhes nitidamente indianos.
A atividade arquitetônica aumentou com a reunificação, sob a dinastia Sui (581-618). Surgiram então notáveis arquitetos, como Yang Su, que traçou o plano da nova cidade de Luoyang; Yu-wen Kai, que criou uma versão aperfeiçoada do ming tang; e Yen Pi, responsável pela restauração da Grande Muralha. No período Tang (618-907), a arte e a arquitetura viveram uma fase de ouro. A capital, Changan, era uma cidade murada, de plano simétrico.
Alguns soberanos da época construíram prédios suntuosos, mas no ano 827 um decreto fixou as dimensões e limitou o número e os tipos de ornamentação dos prédios oficiais. Pouco restou dos templos de madeira, mas subsistiram pagodes de pedra ou argamassa, dos quais o mais típico é provavelmente o Tayen Ta (Grande pagode do ganso), do ano 652, em Changan, com sete andares e 58m de altura. Seu complicado sistema estrutural deriva das técnicas de carpintaria. Uma inovação do período Tang é o plano octogonal, exemplificado pelo túmulo de Jingzang (Ching Tsung), no monte Sung.
A arquitetura do período Song (960-1279) é marcada pelo apelo à tradição. Nessa época, os arquitetos tentam conferir maior força e expressividade às construções, com a utilização de uma decoração caracterizada pela intensidade da cor e pela freqüente utilização de telhas vitrificadas e lajotas. Existem ainda cerca de sessenta pagodes desse período, a maioria do século XI, pois o zen-budismo, imposto a partir do século XIII, não favorecia esse tipo de construção.
As mais típicas formas de arquitetura Song podem ser estudadas no Japão, onde se denominavam Karayo (estilo da China). Com as invasões bárbaras, prenuncia-se uma gradativa decadência da arquitetura chinesa. O estilo Song prevalece sob o domínio dos mongóis (1280-1368) e a única novidade da época é um novo tipo de pagode, de seis andares e plano octogonal, influência do budismo tântrico Liao (pagode branco de Pai-a-ssu, em Jinzhou (Chin-chou), Liaoning, dos séculos XI e XII).
As cidades que no século XIX sofreram maior influência do Ocidente apresentam uma confusa mistura de estilos que não têm nenhuma relação com a arquitetura do país. Após a revolução de 1949, foram registradas tentativas de promoção de uma arquitetura chinesa que, empregando os modernos recursos tecnológicos, exprimisse o novo estilo de vida do país. Com seu ecletismo, os comunistas mantiveram alguns elementos tradicionais e tentaram unir a herança cultural à modernização. Um dos mais significativos exemplos dessa tendência é o Ta Hui-tang, o Congresso do Povo, na capital.
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