Brasil Atual | Situação Econômica no Brasil
Antes de qualquer coisa, é necessário que se defina o que é Economia. Segundo Paulo Viceconti (2000: 1), a Economia é a ciência social que estuda a produção, a circulação e o consumo dos bens e serviços que são utilizados para satisfazer as necessidades humanas. Seu principal foco de estudo, portanto, é a relação que as pessoas têm entre elas no que se relaciona com a produção desses bens e serviços que a Sociedade busca para a satisfação, não só das suas necessidades, mas também, e cada vez mais, dos seus desejos. Este último é um fator relevante, muitas vezes esquecido, ou ignorado, ou reputado como de pouca importância no cômputo geral da Economia. No entanto, ele foi decisivo no desenvolvimento da Era Moderna, da Revolução Industrial e da Revolução Eletrônica. Afinal, o desejo é a maneira sofisticada de satisfazer uma necessidade: vestir, comer, reproduzir, dormir, etc., garantindo um nunca parar de pesquisas para alcançar novas maneiras de satisfaze-las.
Pensando bem, grande parte do consumo atual - e o consumo é a mola-mestra do processo econômico - é sofisticado, embora, ás vezes, não pareça. Jogar fora um iogurte, ou um pote de coalhada, por exemplo, por causa do prazo de validade vencido por dois dias é um desperdício no referente à necessidade de se alimentar, pois eles são produtos originados de leite talhado, coagulado artificialmente... noutros tempos, na verdade, de leite ‘estragado’ propositalmente. De um lado, a sofisticação econômica do consumo; de outro, a necessidade humana de simplesmente comer.
Num país continental como o Brasil, com enormes diferenças de rendas e de emprego, com uma imensidão de locais das mais diversas condições climáticas, de uma enorme variedade de condições de higidez e saúde; com regiões e bolsões de exuberantes riquezas construídas pelo Homem, ao lado de gente miserável vivendo ao Deus-dará, é difícil falar em Economia, pois se pode dizer que há Economias e Economias. Enquanto os insumos e os produtos de uma são abundantes, refinados, selecionados, passando por severo controle de qualidade, os de outra são escassos, grosseiros, impuros e sem qualidade garantida. A primeira é a Economia dos desejos; a segunda, a Economia das necessidades. Este raciocínio torna clara a acepção de que o que é bom para uma não necessariamente é bom para a outra. Qual será a economia brasileira? A que está representada pelas exportações, pela captação de divisas, pelos incentivos fiscais? A economia das grandes indústrias? Do agro-negócio? Da Economia medida por índices de Contabilidade Nacional: PIB, transações correntes, déficit público, dívida interna e externa, amortizações, Direitos Especiais de Saque no FMI, e assim por diante; ou a economia que está representada pelo emprego das pessoas, pela comida diária na mesa de todos, pelo vestuário das crianças – e criança, através de todos os tempos, adora ter sapato novo e quando os têm, caminha olhando para os pés – pelo divertimento corriqueiro, pelo crediário em dia, etc. Ambas são dimensões econômicas, mas tão diferentes quanto a vida diária de um general e de um soldado durante uma guerra. O general, por função e capacitação profissional tratar da estratégia geral da guerra e do planejamento dos pontos que seus exércitos têm de conquistar. O soldado, também por sua função, é quem vai, na tática, conquistar o ponto designado. A diferença entre as duas posições é de que não se morre estrategicamente; somente se perdem as guerras. Mas morre-se taticamente, na tomada de um objetivo estratégico. Um está planejando, o outro está combatendo. Assim é a Economia de um país. Embora a guerra, eventualmente, possa estar sendo ganha, isto não quer dizer que muitos soldados não estão morrendo nos combates do dia a dia. Nem sempre, no entanto, isto é claro, ou relevante, para os que não morrem taticamente - os que estão protegidos nas casamatas do poder.
O momento atual do Brasil lembra um pouco disso. É só atentarmos para o que é apresentado como o maior sucesso da temporada: as exportações. Elas são cada vez mais bem sucedidas, com avassaladores ‘superavits’ batendo recordes a cada mês – mas em detrimento do mercado interno, pois, é lei geral que quanto mais se exporta menor é a qualidade dos produtos que sobram para serem negociados internamente. Muitas das exportações brasileiras são devidas à competitividade de nossos preços internacionais. Se não possuímos produtividade diferencial em alguns produtos industrializados, que seria responsável pelos preços mais reduzidos em função da economia de escala, de onde viria tal capacidade de ter um preço mais competitivo? É claro que dos custos da mão-de-obra. Assim, do pagamento de salários mais baixos, a começar pela base de referência: o salário mínimo. Portanto, alegria de uns, tristeza de outros.
Vejamos outro aspecto, o dos índices que monitoram a Economia do país e que fazem parte de suas Contas Nacionais. Fala-se muito na Balança Comercial, a qual reflete, em última instância, a diferença entre o que é exportado e o que é importado. Parece bom, quando positiva. E é bom, obviamente. Mas isto não significa que o ‘dinheiro’ fique, circule, no Brasil, gerando mais negócios e criando mais empregos. Não, pois se a diferença a maior for usada totalmente na amortização de juros da dívida externa, estaremos criando empregos em outros lugares que não aqui. É por tal razão que pouco se fala em Saldo de Balança de Transações Correntes, que determina o que foi feito efetivamente dos saldos positivos da balança comercial. Vai aparecer, quase sempre que tivemos um ‘lucro operacional’ (preço de venda maior do que custos de produção), mas prejuízo financeiro (valor apurado menor do que as dívidas a pagar). Escutamos a falar freqüentemente que o PIB (Produto Interno Bruto), está crescendo e que ele representa a pujança da Economia do país. E até parece ser, mas a informação tem que ser completa, ou vai ser falaciosa. É verdade que o PIB representa o somatório dos bens e serviços produzidos no País, o que não é garantia de um futuro risonho. Sua Economia, seu parque industrial, sua agricultura podem estar se esvaindo e o índice continuar positivo por algum tempo. É um movimento inercial. Em termo popular, pode ser a ‘melhora da morte’. E como isso pode acontecer? É fácil de entender. Toda a produção demanda um gasto das máquinas, ou um desgaste da terra, ou o envelhecimento das pessoas, e tudo deve ser reposto para que haja, no mínimo, continuidade produtiva. A cada dia, a cada item produzido a cada espiga colhida, a cada grão ceifado, menor capacidade tem a máquina de manter a produtividade, mais exaurida de nutrientes se encontrará a lavoura. Isto se chama ‘depreciação’, e pode ser medida. E deve ser medida para que possa aquilatar o que nos reserva o futuro. E é medida, é claro, mas não é divulgada, nem comentada ou discutida. Quando ouvimos falar no “perigo do sucateamento” disto ou daquilo, estamos ouvindo falar de depreciação dos fatores de produção da Economia. E não se discute isso, pois nunca se ouvem comentários sobre o PIL (Produto Interno Líquido), e ele existe, e serve justamente para ajustar a informação sobre o PIB , pois deduz dele, do PIB, a depreciação inerente à sua consecução. Muitas vezes, esse poderá ser negativo, isto é, estamos destruindo a capacidade futura de ter crescimento da produção interna total. Mas nunca divulgado.
São por coisas como essas que se torna difícil falar sobre Economia nacional, pois, no fim das contas, nem se sabe sobre qual ou sobre o que falar!
Bibliografia consultada
VICECONTI, Paulo Eduardo Vilchez; NEVES. Silvério das. Introdução à economia. 4a ed. São Paulo: Frase, 2000.
www.megatimes.com.br
www.geografiatotal.com.br
www.klimanaturali.org
Pensando bem, grande parte do consumo atual - e o consumo é a mola-mestra do processo econômico - é sofisticado, embora, ás vezes, não pareça. Jogar fora um iogurte, ou um pote de coalhada, por exemplo, por causa do prazo de validade vencido por dois dias é um desperdício no referente à necessidade de se alimentar, pois eles são produtos originados de leite talhado, coagulado artificialmente... noutros tempos, na verdade, de leite ‘estragado’ propositalmente. De um lado, a sofisticação econômica do consumo; de outro, a necessidade humana de simplesmente comer.
Num país continental como o Brasil, com enormes diferenças de rendas e de emprego, com uma imensidão de locais das mais diversas condições climáticas, de uma enorme variedade de condições de higidez e saúde; com regiões e bolsões de exuberantes riquezas construídas pelo Homem, ao lado de gente miserável vivendo ao Deus-dará, é difícil falar em Economia, pois se pode dizer que há Economias e Economias. Enquanto os insumos e os produtos de uma são abundantes, refinados, selecionados, passando por severo controle de qualidade, os de outra são escassos, grosseiros, impuros e sem qualidade garantida. A primeira é a Economia dos desejos; a segunda, a Economia das necessidades. Este raciocínio torna clara a acepção de que o que é bom para uma não necessariamente é bom para a outra. Qual será a economia brasileira? A que está representada pelas exportações, pela captação de divisas, pelos incentivos fiscais? A economia das grandes indústrias? Do agro-negócio? Da Economia medida por índices de Contabilidade Nacional: PIB, transações correntes, déficit público, dívida interna e externa, amortizações, Direitos Especiais de Saque no FMI, e assim por diante; ou a economia que está representada pelo emprego das pessoas, pela comida diária na mesa de todos, pelo vestuário das crianças – e criança, através de todos os tempos, adora ter sapato novo e quando os têm, caminha olhando para os pés – pelo divertimento corriqueiro, pelo crediário em dia, etc. Ambas são dimensões econômicas, mas tão diferentes quanto a vida diária de um general e de um soldado durante uma guerra. O general, por função e capacitação profissional tratar da estratégia geral da guerra e do planejamento dos pontos que seus exércitos têm de conquistar. O soldado, também por sua função, é quem vai, na tática, conquistar o ponto designado. A diferença entre as duas posições é de que não se morre estrategicamente; somente se perdem as guerras. Mas morre-se taticamente, na tomada de um objetivo estratégico. Um está planejando, o outro está combatendo. Assim é a Economia de um país. Embora a guerra, eventualmente, possa estar sendo ganha, isto não quer dizer que muitos soldados não estão morrendo nos combates do dia a dia. Nem sempre, no entanto, isto é claro, ou relevante, para os que não morrem taticamente - os que estão protegidos nas casamatas do poder.
O momento atual do Brasil lembra um pouco disso. É só atentarmos para o que é apresentado como o maior sucesso da temporada: as exportações. Elas são cada vez mais bem sucedidas, com avassaladores ‘superavits’ batendo recordes a cada mês – mas em detrimento do mercado interno, pois, é lei geral que quanto mais se exporta menor é a qualidade dos produtos que sobram para serem negociados internamente. Muitas das exportações brasileiras são devidas à competitividade de nossos preços internacionais. Se não possuímos produtividade diferencial em alguns produtos industrializados, que seria responsável pelos preços mais reduzidos em função da economia de escala, de onde viria tal capacidade de ter um preço mais competitivo? É claro que dos custos da mão-de-obra. Assim, do pagamento de salários mais baixos, a começar pela base de referência: o salário mínimo. Portanto, alegria de uns, tristeza de outros.
Vejamos outro aspecto, o dos índices que monitoram a Economia do país e que fazem parte de suas Contas Nacionais. Fala-se muito na Balança Comercial, a qual reflete, em última instância, a diferença entre o que é exportado e o que é importado. Parece bom, quando positiva. E é bom, obviamente. Mas isto não significa que o ‘dinheiro’ fique, circule, no Brasil, gerando mais negócios e criando mais empregos. Não, pois se a diferença a maior for usada totalmente na amortização de juros da dívida externa, estaremos criando empregos em outros lugares que não aqui. É por tal razão que pouco se fala em Saldo de Balança de Transações Correntes, que determina o que foi feito efetivamente dos saldos positivos da balança comercial. Vai aparecer, quase sempre que tivemos um ‘lucro operacional’ (preço de venda maior do que custos de produção), mas prejuízo financeiro (valor apurado menor do que as dívidas a pagar). Escutamos a falar freqüentemente que o PIB (Produto Interno Bruto), está crescendo e que ele representa a pujança da Economia do país. E até parece ser, mas a informação tem que ser completa, ou vai ser falaciosa. É verdade que o PIB representa o somatório dos bens e serviços produzidos no País, o que não é garantia de um futuro risonho. Sua Economia, seu parque industrial, sua agricultura podem estar se esvaindo e o índice continuar positivo por algum tempo. É um movimento inercial. Em termo popular, pode ser a ‘melhora da morte’. E como isso pode acontecer? É fácil de entender. Toda a produção demanda um gasto das máquinas, ou um desgaste da terra, ou o envelhecimento das pessoas, e tudo deve ser reposto para que haja, no mínimo, continuidade produtiva. A cada dia, a cada item produzido a cada espiga colhida, a cada grão ceifado, menor capacidade tem a máquina de manter a produtividade, mais exaurida de nutrientes se encontrará a lavoura. Isto se chama ‘depreciação’, e pode ser medida. E deve ser medida para que possa aquilatar o que nos reserva o futuro. E é medida, é claro, mas não é divulgada, nem comentada ou discutida. Quando ouvimos falar no “perigo do sucateamento” disto ou daquilo, estamos ouvindo falar de depreciação dos fatores de produção da Economia. E não se discute isso, pois nunca se ouvem comentários sobre o PIL (Produto Interno Líquido), e ele existe, e serve justamente para ajustar a informação sobre o PIB , pois deduz dele, do PIB, a depreciação inerente à sua consecução. Muitas vezes, esse poderá ser negativo, isto é, estamos destruindo a capacidade futura de ter crescimento da produção interna total. Mas nunca divulgado.
São por coisas como essas que se torna difícil falar sobre Economia nacional, pois, no fim das contas, nem se sabe sobre qual ou sobre o que falar!
Bibliografia consultada
VICECONTI, Paulo Eduardo Vilchez; NEVES. Silvério das. Introdução à economia. 4a ed. São Paulo: Frase, 2000.
www.megatimes.com.br
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